domingo, 15 de maio de 2011

Escrevo-te enfim (...)



Escrevo-te por que sinto que faltam coisas pra serem ditas, faltam palavras que preencham esse meu vazio, essa minha solidão passageira. Lhe mandei aquela carta, ousando o convidar para um acompanhamento de um café nessa tarde fria, por quê no fundo, bem no fundo, sabemos que não passou, que é tudo tão normal, como se não tivesse passado um ano, dois anos, até mais. Desde a última vez que esteve em meu apartamento, que fumamos um cigarro forte, sinto que não poderia ser a última vez. Você insistia em dizer que precisava ir, que a sua vida estava parada, e que as coisas por tão belas que sejam sempre passam, a estação sempre fica mais fria do que deve e a música querendo ou não sempre para, a dança termina, e ânsia de um café amargo passa. É sempre assim, você afirmava. Lembro-me como se fosse ontem, seus cabelos grandes sobre o vento, seu violão nas costas, seus livros debaixo do braço, sorrindo, cantando aquelas músicas do caetano, engenheiros, legião, cantavamos e observavamos o barulho do silêncio interior, nos abraçavamos, beijavamos, tocavamos, e no final sobrava sempre uma fotografia pra fazer parte de toda nossa poesia da imobilidade. Juravamos que seria eterno, que aquela rua seria sempre a nossa rua, que aquelas músicas de amores mais ou menos, sempre representaria o que sentiamos, confesso que não tinhamos os mesmos gostos, mas fingiamos bem, oussavamos tão bem, que chegavamos a enganar um ao outro, era praticamente como deveria ser, um encontro uma vez ou outra, uma ligação na madrugada, trocas de livros, palavras, sentimentos, compromissos, des-compromissos. Seguiamos, levavamos e mantinhamos aquele amor puro, sincero, até mesmo nas estaões mais frias. Chegou a fazer parte de mim, parte do que eu era e do que eu desejava ser, me sufocou, nos sufocou, e acabou, terminou, deixou . Escrevo-te enfim, por quê me veio uma vaga lembrança do nosso romance, queria apenas surpreender dizendo que o meu vicio por café passou,que não fumo tanto quanto antes, e que sempre ouço aquele disco que me presenteou no nosso aniversario, que aquelas nossas fotografias continuam onde sempre estiveram, fazendo parte dos vazios agudos, da minha bipolaridade, e da falta que insiste em fazer.

Ao som de : (Cat power- Good Woman)

Um comentário:

  1. Olá, Angélica!
    A solidão é algo tão transitório e a falta ou vazio, esta para ser preenchido.
    A carta que tu mandaste na esperança de que o café não ficaria frio era o momento que os dias que passaram fossem apenas mais uma xícara para ser cheia. Angélica, a solidão é assim, como uma grande viagem feita em um “trago” da vida, ouvindo letras de poesias interpretadas por vozes que ocupam o vazio.
    Mais chega um momento em que nossas fotos ficam amarelas e o café já não é tão bom quanto antes as musicas mudaram seus sentidos e o vazio foi preenchido por uma nova xícara de chá.
    Angélica, parabéns pelo maravilhoso texto, me descreve momentos que nos podemos viver, obrigado por nos contemplar com palavras tão maravilhosas.

    Att.
    Gilmar Souza Koizumi

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